(Por Maurício Gomide Martins)
Está atualmente a humanidade, por intermédio de seus insensíveis e prejudiciais “donos do mundo”, derrubando as árvores que caracterizam as matas naturais ainda existentes, principalmente na Amazônia, oeste de África e Grandes Ilhas do sudeste asiático. A ilha de Borneo, por exemplo, está praticamente sem cobertura florestal, e seu animal símbolo, o orangotango, hoje sobrevive em parques de proteção biológica.
Essas ações, de caráter empresarial e individual, de formas contínuas, furiosas e mortíferas, são impelidas por um enganoso objetivo máximo da vida, miragem gerada na estrutura econômica da atual civilização: ganância a qualquer custo.
E os governos irresponsáveis dessas regiões fingem que combatem tão odioso procedimento, mas por efetivas ações dão-lhe suporte para que os agentes prossigam nessa prática destrutiva. Tudo justificado pela glória de impulsionar seus países rumo ao progresso material, sustentado no aumento de ganhos gerais dos governos, dos políticos, dos parasitas sociais, do sistema econômico individualista, das atividades paralelas. Numa só palavra: desenvolvimento.
O que é uma mata? Não é apenas um aglomerado de árvores. Não é somente o solo potencialmente agriculturável. Não é uma fonte inesgotável de ganhos. Uma mata é um mundo. Sim, é um conjunto harmonioso que sustenta a vida. Assim como o planeta Terra é um mundo para a humanidade, uma mata é um mundo para seus habitantes. Ali está, em equilíbrio perfeito, uma existência imensa de seres vivos, dos quais as árvores são seu suporte e garantia de vida. Ali há vida. Ali há um mundo de biodiversidade.
Biodiversidade é uma palavra síntese que abarca todos os seres naquele mundo, desde o mais simples até os mais complexos. É um conjunto de vidas em perfeito e sadio equilíbrio natural. A parte mais visível e sustentáculo desse habitat são as árvores, mas também fonte imediata de lucros obtidos por ações danosas e sujas com a dor, sofrimento e sangue vegetal. Nesse morticínio, quebra-se a corrente da biodiversidade de um bioma e o plano geral do planeta, pois as partes globais são interdependentes. O desequilíbrio climático atual é, entre outras, conseqüência dessas tragédias íntimas.
Como sabemos, a vida se alimenta da própria vida, de forma harmoniosa, equilibrada e sustentável. Essa cadeia de existência começa com a essencial atividade dos vegetais, que recebem a energia vital do Sol, necessária à produção da fotossíntese, esse milagre da transformação de energia em matéria viva. É a comunhão sagrada entre a Terra e o Sol. É um ato de doação de vida. Os primitivos humanos tinham suas razões para cultuar o Sol.
Os vegetais são os desbravadores do planeta, são os portais por onde entram todas as demais condições de vivência. Nesse mundo ecológico a que nos referimos inicialmente, vivem os animais de todos os tipos, os insetos, os pássaros, os fungos, as bactérias, uns dependentes dos outros. Todas essas vidas são partes inter-relacionadas para a manutenção do equilíbrio do sistema a que chamamos meio ambiente.
Plantações extensas de eucalipto não têm biodiversidade; não têm vida. Não constituem um habitat, um mundo. São apenas ferramentas de ganho, formando um conjunto artificial, transitório e infértil.
Quando os brutamontes destroem as árvores, arrancando suas raízes, limpando o solo para plantio, desequilibram e destroem um mundo inteiro. E não restam muitos mundos desse tipo no planeta. A vida está perdendo suas oportunidades de afirmação para o lucro materialista, inglório, antinatural e formador de desertos.
Recentemente, um “sábio” deputado apresentou um projeto de lei, no qual constava que os proprietários de terras poderiam destruir suas matas desde que, posteriormente à realização dos seus objetivos econômicos, recompusesse a área destruída com o plantio de árvores. Ele não tem a mínima consciência desse mundo a que nos estamos referindo. Árvores são fontes de alimento e a membrana protetora que garante um ecossistema, isto é, um mundo que requereu milhões de anos para encontrar seu próprio equilíbrio vivencial. Não são os humanos os seres mais importantes do planeta; são as plantas, grandes e pequenas, base da vida. Todos os demais dependem delas na realização de um ciclo vivencial que demorou milhões de anos para se firmar.
Desmatar não é somente assassinar árvores; é destruir e tornar estéril todo um mundo.
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*Maurício Gomide Martins, 82 anos, é ambientalista e colunista do EcoDebate. Residente em Belo Horizonte(MG), depois de aposentado como auditor do Banco do Brasil, já escreveu três livros. Um de crônicas chamado “Crônicas Ezkizitaz”, onde perfila questões diversas sob uma óptica filosófica. O outro, intitulado “Nas Pegadas da Vida”, é um ensaio que constrói uma conjectura sobre a identidade da Vida. E o último, chamado “Agora ou Nunca Mais”, sob o gênero “romance de tese”, onde aborda a questão ambiental sob uma visão extremamente real e indica o único caminho a seguir para a salvação da humanidade.