Em mais de uma década de trabalho voluntário voltado para a defesa dos direitos do povo mipibuense, principalmente daqueles e daquelas de quem o estado só se aproximou para lhes cobrar obrigações, mesmo lhes havendo negado direitos básicos como educação, saúde, segurança... em fim, qualidade de vida, me deparo com mais um caso que vem me tirando o sossego nas últimas semanas.
Há alguns dias uma pessoa nos procurou para informar que recebeu em sua residência uma adolescente que havia fugido da casa onde morava, por não suportar os maus tratos que sofria quase que diariamente. Agressões verbais e físicas que lhes eram impostas por quem deveria lhe garantir proteção.
Ainda descrentes dos fatos convidamos a jovem adolescente, diga-se de passagem uma linda moça na flor de sua juventude, para ouvirmos da própria a sua versão dos fatos.
Para nossa surpresa aquela garota, bastante retraída, talvez pelo sofrimento que a vida lhe presenteara, nos contou que aos oito anos de idade fora entregue pelos pais para para morar com uma família. Nesta casa passou a não só morar, mas também a realizar todo um conjunto de tarefas como cuidar de animais, limpeza da casa, fazer comidas, mandados, em fim, serviços de adulto sem qualquer pagamento. Ou seja, trabalho escravo.
Para além do trabalho diário relatou-nos, a jovem, que também era vítima de agressões físicas e verbais por parte de pessoas da casa onde vivia e que seus pais nunca deram atenção aos seus problemas. Por esses motivos decidiu fugir e procurar ajuda. Disse-nos, também, que não poderia procurar seus pais, pois fora abandonada e nunca recebeu atenção dos mesmos.
Tal fato nos deixou perplexos. Como poderia estar acontecendo tal situação nos tempos atuais? Como isto poderia estar acontecendo em tempos de uma forte lei de proteção a criança e ao adolescente, em tempos de conselho tutelar que recebem pagamento para garantir os direitos de nossos jovens, em tempos de agentes de proteção que deveriam proteger esta adolescente?
Como esses pais puderam abandonar esta, então, criança a este destino cruel e deixá-la sofrer por massacrantes quatro anos seguidos?
Filha de pais separados, cuja mãe está desempregada e alega não ter condições de cuidar da filha e o pai foge do dever paterno, um futuro incerto se avizinha desta jovem e lapida a fogo no seu inconsciente as marcas indeléveis do abandono e da falta de amor.
"Aonde estão os homens que têm o dever e a obrigação de fazer mudar esta realidade?
Aonde estão, eu sei que ainda existe alguém honrado, honesto e de bem..."
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