Nas últimas eleições municipais votei em um vereador que, não reunindo as melhores qualidades devidas a um político, era o que podemos dizer menos ruim entre as candidaturas apresentadas.
Outro fator que pesou na minha escolha foi o fato de este, então, candidato a vereador haver trabalhado por muito tempo na educação, havermos trabalhado juntos em algumas ocasiões e ser um amigo que conheço desde longa data.
Não obstante o perfil de político por mim escolhido e que em muito se distanciava do perfil do pretendente ao meu sufrágio naquela ocasião, decidi dar uma oportunidade ao amigo para que, ante o meu ato de creditar-lhe minha confiança para um mandato edil, pudesse mostrar sua capacidade de legislar em defesa dos direitos do meu povo, do fortalecimento do processo democrático, da transparência no uso dos recursos públicos e na boa administração da coisa pública em benefício da coletividade.
Passados quase três anos da minha incauta atitude como eleitor, eis que me deparo com um episódio envolvendo abuso de poder, autoritarismo e ingerência de terceiros sobre a administração pública em prejuízo de todo um segmento populacional, inclusive insinuando possível violação de direitos e segregação.
Ante o advento do indesejável problema e jamais havendo procurado o agora vereador em pleno exercício de mandato parlamentar, resolvi procurá-lo, para que ele pudesse colaborar com um pequeno gesto, mas de grande valia para a democracia, de forma a somar forças na defesa dos direitos da população mipibuense. Seu gesto seria apenas pedir uma sala para uma reunião.
Tamanha foi a minha surpresa ao conversar com o vereador e ouvir dele que não poderia me responder naquele momento, pois necessitava consultar o presidente do seu partido, também vereador e em quem não votei, para que então pudesse dar uma resposta. Ora, consultar outro vereador para pedir uma sala?
Extremamente indignado disse-lhe que aquela atitude me causava vergonha, mais por ele, um vereador que é pago pelo povo para agir corretamente e de forma independente quando o seu povo precisava de ajuda e sofria ameaças de violação dos seus direitos, do que por mim e pelo meu voto. Indignação mais pelo estelionato eleitoral praticado contra um cidadão de boa fé do que pela história que recheia o passado da nossa classe política. Ultrajado mais pela covardia e omissão de quem descaradamente trai seu povo, seus irmãos e irmãs que o elegeram e lhe confiaram um mandato.
Disse-lhe, ainda, que o vereador e amigo deveria ter sido honesto e alertado seus eleitores durante o processo eleitoral sobre a sua dependência de outros políticos para poder tomar decisões, mesmo quando os direitos de todo o povo mipibuense estivesse ameaçado.
Confesso que me excedi durante a conversa, mas que não poderia ser diferente. Que não poderia deixar tantos irmãos e irmãs terem seus direitos ameaçados e me acovardar abandonando-os. E não o fiz.
Mas o amigo e verador o fez. Se escondeu e negou ao seu povo, a sua gente, a sua ação parlamentar. Aquilo para o que o seu próprio povo traído lhe paga e muito bem, por sinal, todos os meses rigorosamente.
Lamento a postura do amigo e vereador naquela ocasião, fugindo a luta e abandonando o seu povo quando ele mais precisava. Lamento, vereador, pelo peso do fardo que terá que carregar pelo resto de sua vida. Pelo preço político incalculável que terá que pagar e pelo sabor amargo do cálice da covardia que terá que tragar todas as vezes em que sentar a mesa de um mipibuense.
Outras eleições nos esperam...
Ao meu amigo e vereador Jean Nerino.
.
..