O Yahoo!, de 1994, levou 18 anos para chegar à situação atual; o Facebook
terá sorte se durar tanto tempo
Não admira que Mark Zuckerberg tenha se comportado de modo tão defensivo
na semana passada. Enquanto pagava US$ 1 bilhão para eliminar a ameaça que o
Instagram representava para o Facebook, antigos gigantes da web passavam por
momentos de humilhação.
O Yahoo!, que revelou mais um plano de reorganização, e a AOL, que vendeu
800 patentes à Microsoft por US$ 1,1 bilhão, estão sob ataque dos fundos de
hedge. As duas companhias têm valor de mercado equivalente a apenas uma fração
do que atingiram durante a bolha de internet dos anos 1990.
O Vale do Silício foi sempre competitivo, mas as barreiras para o
ingresso no boom das redes sociais, em seu estágio atual, são tão baixas, e o
capital, tão abundante, que o processo de destruição criativa agora ocorre em
ritmo acelerado. Se o Facebook, a caminho de lançar sua oferta pública inicial
de ações, pagou US$ 1 bilhão para neutralizar o Instagram, qual será o valor do
Pinterest, do Path e de outros serviços que ainda estão por ser
inventados?
Porque o Instagram tem receita zero, é impossível determinar em que
medida Zuckerberg exagerou na oferta por um único aplicativo, que tem roubado
usuários ao Facebook.
Sabemos o que ele teme - repetir o destino de muitas empresas de internet
voltadas ao consumidor (entre as quais redes sociais como a Bebo, adquirida pela
AOL em 2008 por US$ 850 milhões e vendida no ano passado por US$ 10 milhões).
Elas podem ganhar milhões de usuários e conquistar imensos valores de mercado
repentinamente -e implodir de maneira igualmente súbita.
O mais notável sobre a transação entre o Facebook e o Instagram é que a
mudança de rumo tenha acontecido tão rápido. Em geral, uma empresa precisa estar
operando como companhia de capital aberto há ao menos um ou dois anos e sofrer
pressão de investidores para que comece a pensar defensivamente a adquirir
concorrentes nascentes.
Depois, tem de decidir se vai integrar a nova aquisição às suas demais
operações, o que acarreta o risco de arruinar a nova propriedade, ou se vai
mantê-la separada.
O Instagram caminhava para ser o maior serviço on-line de fotografia, o
que ameaçava o domínio do Facebook sobre a veiculação de fotos, mas Zuckerberg
não poderá simplesmente absorver a companhia.
"Trata-se de um marco importante para o Facebook porque pela primeira vez
adquirimos um produto e empresa com tantos usuários. Não é algo que planejemos
repetir muitas vezes", prometeu. Mas o que acontecerá quando uma nova companhia
iniciante começar a atrair a atenção dos usuários do Facebook?
Já existem alguns exemplos, como o Path, rede social móvel para o iPhone
e o Android; e o Pinterest, um site de fotos cujo foco é a moda.
Qualquer empresa de tecnologia que planeje permanecer no mercado precisa
da capacidade de se defender via aquisições. Mas o fato de que o Facebook tenha
feito isso antes de amadurecer revela algo de preocupante quanto à internet. A
combinação de barreiras baixas à entrada, distribuição digital, companhias de
capital para empreendimentos ávidas por investir, engenheiros de software
ambiciosos e a oportunidade de ganhar bilhões geraram um ambiente de
hipercompetição.
Mas nenhuma companhia está segura. Warren Buffett é famoso por sua
aversão a investir em tecnologia, porque esse tipo de investimento é
imprevisível. Os serviços ao consumidor na internet contam com as muralhas mais
fáceis de derrubar.
A proteção do Facebook é o efeito de rede propiciado por seus milhões e
milhões de usuários, mas a ascensão do Instagram e a derrocada do MySpace e de
outros serviços demonstram o quanto isso é frágil.
Zuckerberg tem evitado, até o momento, as armadilhas ao conduzir a
ascensão de sua empresa com inteligência, recuando de seus erros com rapidez
suficiente para não alienar os usuários. Mas o crescimento do Facebook se
desacelerou nos EUA e parece claro que ele começou a se preocupar com as ameaças
ao domínio de sua empresa.
O Instagram era uma, mas há outras. A internet tem o desagradável hábito
de consumir suas empresas maduras -o Yahoo!, fundado em 1994, demorou 18 anos
para chegar à sua situação atual. O Facebook terá sorte se durar tanto
tempo.
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*JOHN GAPPER é editor-associado e colunista do "Financial Times", jornal
em que este artigo foi publicado originalmente.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Fonte: Folha.com
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