Em um final de tarde, após longo dia de trabalho e quando caminhava para o descanso do lar, eis que, sentado em uma cadeira à porta de uma mercearia, encontro um velho amigo.
Ares de felicidade, braços esticados já esperando o antigo abraço, ele quebra o silêncio:
- Meu filho, você por aqui, há quanto tempo!
Cumprimento-o à moda antiga, respondendo aos gestos e todas as suas perguntas. E, como todo bom provinciano, passo a escutá-lo.
- Como vai a família? As coisas hoje são diferentes!
Durante a audição me perco em um espasmo antológico.
- Nos anos setenta, quando prefeito, eu queria construir a rodoviária. Mas, o padre não queria deixar e aduzia que o terreno pertencia a santa. Dizia que eu tinha que pagar pelo terreno para poder construir.
- Eu não podia perder a oportunidade, não queria e nem tinha dinheiro para pagar o terreno. Mas, aceitei. Aí, eu fui à capital, acertei tudo e mandei começar a construção. Mas, o padre perturbava e insistia no pagamento do terreno da santa.
- Depois de muita insistência e não tendo mais o que argumentar para adiar o pagamento, chamei o padre e lhe disse: "Eu sei que o terreno é da santa. Que devo e quero pagar. Mas, só pago à ela!"
Vendo-se vencido e sem poder de contra-argumentação o padre se ouviu falar em mediação de negócios entre o padre, o prefeito e a santa.
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Texto de Perceval Carvalho com Ilustração de Pedro Augusto
Texto de Perceval Carvalho com Ilustração de Pedro Augusto
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