Há uma tragédia velada e dolorosa que atinge lares brasileiros, sobretudo, em
comunidades humildes das periferias das nossas cidades: OS DESAPARECIMENTOS DE PESSOAS, assunto em boa hora resgatado pela
Campanha da Fraternidade de 2014.
Estima-se que cerca de 250.000 pessoas
desapareçam por ano no Brasil. Em torno de 40.000, seriam crianças, arrancadas
dos seus pais criminosamente para fins de exploração sexual, no trabalho ou
macabramente para transplante de órgãos, dentre outras formas de proscrição da
convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes no Brasil.
O
Brasil ainda nem se aproximou do esclarecimento dos Desaparecimentos Políticos
ocorridos no Regime Militar e já tem essa outra dívida cívica para com a nação:
OS DESAPARECIDOS em Tempos de Paz, para resgatarmos a expressão utilizada por
Bosco Brasil em sua peça, adaptada magistralmente para o cinema por Daniel
Filho, com exuberantes interpretações de Toni Ramos e esse extraordinário Dan
Stulbach que emociona e trás a esperança para a vida novamente nos monólogos do
aludido filme.
Crianças desapareceram em Natal também na década de 90. No
bairro Planalto, Zona Oeste, entre Novembro de 1998 e Abril de 2001. 5 crianças
foram sequestradas dos seus lares humildes e até os dias que correm suas
famílias nunca mais tiveram qualquer notícia dos seus paradeiros como pode se
depreender da relação dos casos a seguir:
29/Novembro/1998
Moisés
Alves da Silva, com 1 ano e 7 meses, desaparece de
casa.
09/Fevereiro/1999
Joziana Pereira dos Santos, com oito anos, sumiu
da casa de uma vizinha identificada como Sandra
Aparecida.
04/Janeiro/2000
Yuri Ribeiro Cardoso, de 2 anos e 3 meses foi
levado da rede.
10/Abril/2000
Gilson Enedino da Silva, então com um ano
foi levado
21/Dezembro/2001
Marília Gomes da Silva, com dois anos,
desaparece.
É a última criança do bairro a ser levada.
Além
desses “desaparecimentos”, a crônica do saudoso Diário de Natal, em 7 de Julho
de 1996, resgata um outro caso também acontecido no Planalto, o de Daiane
Pereira da Silva. Há ainda a indicação de um outro sequestro realizado na favela
do DETRAN e que teria como vítima uma criança nominada Joana D’arc.
Além
da cobrança da Imprensa e da Comunidade dos Direitos Humanos das Crianças e
Adolescentes, houve outras iniciativas tentando trazer luz ao caso como a
passagem na nossa capital da CPI das Crianças Desaparecidas que fez audiência em
Natal a 04/12/2009 por iniciativa das Deputadas Federais Sandra Rosado e Fátima
Bezerra e que contou também com a participação das Deputadas Lílian Sá (RJ) e
Emília Fernandes (RS), dentre outros.
Posteriormente, já a 3 de dezembro de
2012, recebemos em Natal, a CPI do Tráfico de Pessoas, por iniciativa dos
Senadores Paulo Davin, Vanessa Graziotin(AM) e Lídice da Mata (BA) que cobraram
a federalização das investigações, mas que concorreram de forma efetiva para que
fosse nomeado para o caso, o Dr. Ben Hur de Medeiros, da Delegacia de Capturas
da Civil que, assumindo a presidência dos trabalhos e contando com apoio que
faltou em outros anos, conseguiu nesta manhã divulgar o primeiro retrato com a
projeção de envelhecimento de Joziana Pereira dos Santos e descortinar linhas de
investigações ainda em segredo de justiça que podem lograr a vir a esclarecer
esse episódio doloroso de forma continuada para a sociedade potiguar no geral e
particularmente para os pais “órfãos” de filhos vivos. De registro também o
engajamento dos dos demais policiais civis da DECAP e dos Promotores de Justiça
, Dr. Thibério Fernandes , devotado e firme na busca de luzes e do Dr. Jovino
Pereira da Costa Sobrinho, espécie de Guardião da Linha do Tempo do caso.
Por
demais comovente a participação em todos os momentos dos familiares das
crianças, mesmo em meio à pobreza, amargura e desamparo.
Num mundo marcado
pelo egoísmo e frenética luta por bens materiais, emociona vê-los ter como
principal combustível das suas vidas a tenaz caminhada em busca do paradeiro das
suas crianças, hoje, já adolescentes e a JOVEM JOZIANA, habitantes sabe-se lá de
que terras, coabitando sabe-se lá com quem. Fazendo o que? aonde? , com
quem?
Desconhecedores da suas origens, da sua história. Pontas de um
sofrimento desestruturante da vida dos seus pais. Quem sabe vetores da
felicidade de “outros pais egoístas” e do sucesso mercadológico dos cruéis
mercadores de vidas.
Sueli, Francisca, Djalma, Severino, Geraldo e Lindalva
continuam presentes e caminhando por sobre as dores e equilibrando-se em tênues
esperanças. Mesmo lacrimejando os olhos, sofrendo. Mas respirando e insistindo
na busca. Essa resiliência também pode ser chamada por esperança!
José
Augusto, recentemente e Marcileide , no mês de Julho de 2010, já se foram, sem
poder olhar nos olhos dos seus filhos e de novo reabraçá-los como num congresso
de afetos tardios e sequestrados.
As notícias dessa semana, primeiro, com a
coleta de material para exames de DNA na Polícia Federal que tão bem nos acolheu
através do DPF Moura e peritos e, hoje, com a divulgação da foto com a projeção
do envelhecimento de JOZIANA, podem parecer pouco ou quase nada para quem
observa os fatos de longe. Para quem acompanha o caso na medida do possível,
como eu, todavia, são filamentos de luzes egressas de vagalumes num breu de
impunidade e desalento. Incapazes de iluminar, porém intermitentes, anunciando
que a esperança precisa ser cultivada e fortalecida ainda que com réstias de
possibilidades.
Sim , o Caso das Crianças Seqüestradas do Planalto, Zona
Oeste de Natal, Rio Grande do Norte permanece um mistério e uma dor escancarada.
Um diploma também da insuficiência do trabalho das nossas instituições
provedoras do necessário acesso à Justiça para uma cidadania plena.
A
divulgação da foto de JOZIANA e a coleta de DNA dos familiares de GILSON,
MARÍLIA, MOISÉS e YURI, todavia, mostra que mesmo distando mais de uma década e
meia, ainda é possível haver o esforço e fazer a esperança renascer pela crença
de que o sonho louco de justiça ainda pode ser materializado na terra de Poti
com um trabalho integrado entre o órgãos que paulatinamente irá fazendo a
verdade aflorar, assemelhando-se mesmo a lição Drummondiana D’A flor e a
náusea:
"Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio
de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o
asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma
flor nasceu.
É feia. Mas é flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o
ódio".
Ainda há uma imensidão de coisas a serem feitas. Mas ao menos a
ESPERANÇA começou a ser cuidada no caso das Crianças Sequestradas do Planalto. E
a Esperança surpreende pela teimosia e pela RESILIÊNCIA.
Quarta-feira lá
na Polícia Federal e hoje na DEGEPOL, Dona Lindalva, mãe de Joziana, vítima de
Crimes de Guerra em Tempos de Paz, me disse mais uma vez : EU TENHO
ESPERANÇAS!
Não trás a eloqüência de Dan Stubach no filme, mas trás uma carga
dramática indescritivelmente convincente.
Já passou da hora de acharmos
as crianças do planalto!
JOZIANA, ONDE VOCÊ ESTÁ?
Marcos Dionísio
Medeiros Caldas
Presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos
(2012-2014) e Ex-presidente do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente
(2009-2010)
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A FOTOGRAFIA ABAIXO MOSTRA COMO JOZIANA, UMA DAS VÍTIMAS, PODE ESTAR HOJE.
SE VOCÊ VIU ESTA PESSOA ENTRE EM CONTATO (84 - 3273-3980)
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