AS COINCIDÊNCIAS DA VIDA CONTEMPORÂNEA
(Perceval Carvalho - 17/02/2011)
Em uma destas tantas viagens de trabalho pelo Brasil afora, desembarco no aeroporto de Salvador-BA, em uma noite de muito movimento, em busca de um lugar confortável para tomar um café e ler os jornais enquanto aguardo o pessoal da equipe de traslado até o meu hotel.
Eis que, com a grande movimentação de pessoas, encontrar um lugar para sentar e desfrutar um momento de tranqüilidade tornara-se quase impossível e, já quase impaciente, vislumbro ao longe uma mesa com uma de duas vagas disponível. Apressado, saio em busca daquele verdadeiro oásis magalhaneano e logo me deparo com um senhor moreno e de baixa estatura, que ali saboreava kibe com uma bebida.
Ao me aproximar, cumprimentei-o e ele gentilmente respondeu-me acenando para que me sentasse em sua companhia. Um gesto por demais elegante e cortez, pouco visto na contemporaneidade.
O garçom aparece, oferece o cardápio e aguarda a minha resposta, que, logo em seguida solicito um café expresso, enquanto me detenho na leitura mais profunda da gastronomia do restaurante para decidir-me quanto ao que irei consumir como jantar. O garçom se afasta e o meu companheiro de mesa inicia a conversa.
- Você está por aqui a trabalho? De onde você vem?
- Sim! A partir de amanhã estarei envolto em palestras e debates por toda a semana, quando retorno para o descanso do lar. Venho do Rio de Janeiro, onde há alguns dias também estive cumprindo uma agenda de compromissos.
- E você, está de viagem ou também acaba de chegar?
- Eu também estou cumprindo uma agenda longa de trabalho, mas, enfim, agora volto para minha família.
- Que bom! Eu ainda tenho esta semana por aqui junto aos baianos.
Após um pequeno espaço, entre uns goles e kibes, o companheiro me diz que trabalhou muito tempo em uma empresa do ramo de petróleo e que, após sua aposentadoria, trabalha agora como consultor, ministrando palestras e prestando consultoria para empresas do ramo.
Ao terminar sua explanação sobre sua vida profissional, o companheiro de mesa me pergunta:
- Você mora do Rio de Janeiro?
- Não! Moro no Rio Grande do Norte!
- Eu também!
- Verdade? Onde?
- Em Natal!
- Eu também moro em Natal!
- Em que bairro?
- Lagoa Nova!
- Eu também moro em Lagoa Nova!
- Em que rua?
- Na rua tal!
- Eu também!
- Eu moro no condomínio tal!
- Eu também!
- Qual o seu bloco?
- X!
- O meu também!
A partir de então descobrimos que éramos vizinhos e nunca havíamos nos visto, sendo necessário um encontro na Bahia, distante 800 km de nossas residências, para nos conhecermos e nos tornarmos amigos.
Após algum tempo, o, agora, amigo ouviu o chamado de seu vôo, despediu-se e se foi e eu segui para o hotel onde passei parte da noite imaginando como a vida nos prega peças.
São as coincidências da vida contemporânea!
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