sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

AS COINCIDÊNCIAS DA VIDA CONTEMPORÂNEA

AS COINCIDÊNCIAS DA VIDA CONTEMPORÂNEA

(Perceval Carvalho - 17/02/2011)

Em uma destas tantas viagens de trabalho pelo Brasil afora, desembarco no aeroporto de Salvador-BA, em uma noite de muito movimento, em busca de um lugar confortável para tomar um café e ler os jornais enquanto aguardo o pessoal da equipe de traslado até o meu hotel.

Eis que, com a grande movimentação de pessoas, encontrar um lugar para sentar e desfrutar um momento de tranqüilidade tornara-se quase impossível e, já quase impaciente, vislumbro ao longe uma mesa com uma de duas vagas disponível. Apressado, saio em busca daquele verdadeiro oásis magalhaneano e logo me deparo com um senhor moreno e de baixa estatura, que ali saboreava kibe com uma bebida.

Ao me aproximar, cumprimentei-o e ele gentilmente respondeu-me acenando para que me sentasse em sua companhia. Um gesto por demais elegante e cortez, pouco visto na contemporaneidade.

O garçom aparece, oferece o cardápio e aguarda a minha resposta, que, logo em seguida solicito um café expresso, enquanto me detenho na leitura mais profunda da gastronomia do restaurante para decidir-me quanto ao que irei consumir como jantar. O garçom se afasta e o meu companheiro de mesa inicia a conversa.

- Você está por aqui a trabalho? De onde você vem?

- Sim! A partir de amanhã estarei envolto em palestras e debates por toda a semana, quando retorno para o descanso do lar. Venho do Rio de Janeiro, onde há alguns dias também estive cumprindo uma agenda de compromissos.

- E você, está de viagem ou também acaba de chegar?

- Eu também estou cumprindo uma agenda longa de trabalho, mas, enfim, agora volto para minha família.

- Que bom! Eu ainda tenho esta semana por aqui junto aos baianos.

Após um pequeno espaço, entre uns goles e kibes, o companheiro me diz que trabalhou muito tempo em uma empresa do ramo de petróleo e que, após sua aposentadoria, trabalha agora como consultor, ministrando palestras e prestando consultoria para empresas do ramo.

Ao terminar sua explanação sobre sua vida profissional, o companheiro de mesa me pergunta:

- Você mora do Rio de Janeiro?

- Não! Moro no Rio Grande do Norte!

- Eu também!

- Verdade? Onde?

- Em Natal!

- Eu também moro em Natal!

- Em que bairro?

- Lagoa Nova!

- Eu também moro em Lagoa Nova!

- Em que rua?

- Na rua tal!

- Eu também!

- Eu moro no condomínio tal!

- Eu também!

- Qual o seu bloco?

- X!

- O meu também!

A partir de então descobrimos que éramos vizinhos e nunca havíamos nos visto, sendo necessário um encontro na Bahia, distante 800 km de nossas residências, para nos conhecermos e nos tornarmos amigos.

Após algum tempo, o, agora, amigo ouviu o chamado de seu vôo, despediu-se e se foi e eu segui para o hotel onde passei parte da noite imaginando como a vida nos prega peças.

São as coincidências da vida contemporânea!

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