"Esperar liberdade nas relações políticas é o mesmo que esperar o carinho de um escorpião"

Esta semana tivemos a oportunidade de conversar com um Mipibuense daqueles que vivem a sua vida do seu trabalho e sustenta sua família com o suor de seu rosto. Lamentavelmente não tenho autorização para citar o seu nome e, portanto, em respeito, não o farei.

Entre um dedo e outro de prosa sobre coisas da vida de nossa Gente, eis que, com um estalo, ele, entristecido e aparentemente abalado, me confidencia:

- Você sabia que saí da prefeitura?

E, surpreso, lhe respondo que não.

- Verdade! Trabalho desde a primeira eleição para esse povo e o que ganho é traição! Nem tiveram coragem de me dizer. Ficaram me enrolando e não me pagaram.

Sem saber muito o que dizer me solidarizei com ele e lhe disse para ter paciência, pois as traições parecem ter virado moda na província. E ele, cabisbaixo, se despede e retorna aos seus afazeres.

O teósofo indú Jidu Krishnamurti nos ensina que "A liberdade não é uma reação, nem tampouco uma escolha. É pretensão do homem pensar ser livre porque pode escolher. Liberdade é observação pura sem direção, sem medo de castigo ou recompensa. A liberdade não tem motivo: ela não se acha no fim da evolução do homem e sim, no primeiro passo de sua existência."

Portanto, esperar liberdade nas relações políticas é o mesmo que esperar o carinho de um escorpião, cuja característica mais essencial é o ataque, até mesmo aos aliados.

O antropólogo Edgar Morin alega que o ser humano é o único animal que, ao contrário de todos os outros, possui um poliprograma. Ou seja, o rato é um roedor e será onde quer que esteja e seja mantido. Será sempre um rato! É da natureza do cão o latir e o fará independente de onde foi criado ou seja mantido. Ele sempre latirá!

Segundo Morin, o ser humano é o único que responde de acordo com o ambiente em sua volta. Ou seja, se for criado com cães tentará imitá-los. Se for criado com macacos tentará ser um. 

Retomando o pensamento krishnamurtiano, podemos dizer que o que temos na verdade é um vazio. E que "A verdade é uma terra sem caminho. O homem não chegará a ela através de organização alguma, de qualquer crença de nenhum dogma, de nenhum sacerdote ou mesmo um ritual, e nem através do conhecimento filosófico ou da técnica psicológica. Ele tem que descobrí-la através do espelho das relações, por meio da compreensão do conteúdo da sua própria mente, mediante a observação, e não pela análise ou dissecação introspectiva. O homem tem construído imagens em si próprio, como muros de segurança - imagens religiosas, políticas, pessoais. Estas se manifestam como símblos, idéias, crenças. O peso dessas imagens domina o pensamento do homem, as suas relações e a sua vida diária. Tais imagens são as causas de nossos problemas, pois elas dividem os homens. A sua persepção da vida é formada pelos conceitos já estabelecidos em sua mente. O conteúdo de sua consciência é a sua consciência total. Este conteúdo é comum a toda humanidade. A individualidade é o nome, a forma e a cultura superficial  que o homem adquire da tradição e do ambiente. A singularidade do homem não se acha na sua estrutura superficial, porém na completa libertação do conteúdo de sua consciência, comum a toda humanidade."

Assim, devemos buscar a liberdade para além das imagens de nossas consciências, olhar através do que se nos apresenta culturalmente em nossas relações cotidianas. As estruturas que vivenciamos são nada mais do que um complexo sistema de informações arcaico e viciado.

A história que nos contam e que contamos nada mais é do que a repetição do que nos foi preparado para nos manter numa matrix chamada ideologia dominante.