“Para os que virão”
(Tiago de Melo)
Como sei pouco, e sou pouco, faço o pouco que me cabe me dando
inteiro.
Sabendo que não vou ver o homem que quero ser.
Já sofri o suficiente para não enganar a
ninguém: principalmente aos que sofrem na própria vida, a
garra da opressão, e nem sabem.
Não tenho o sol escondido no meu bolso de
palavras.
Sou simplesmente um homem para quem já a
primeira e desolada pessoa do singular - foi deixando, devagar,
sofridamente de ser, para transformar-se - muito mais sofridamente
- na primeira e profunda pessoa do plural.
Não importa que doa: é tempo de avançar de mão
dada com quem vai no mesmo rumo, mesmo que longe ainda esteja de
aprender a conjugar o verbo amar.
É tempo sobretudo de deixar de ser
apenas a solitária vanguarda de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro. (Dura no peito, arde a
límpida verdade dos nossos erros.)
Se trata de abrir o rumo.
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Fotografia: Sebastião Salgado
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