segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Demora de ‘SUS’ no setor privado

A sala de espera no setor de emergência pediátrica está lotada. Crianças choram e deixam os pais ainda mais impacientes. A demora no atendimento faz com que alguns abandonem o hospital e procurem outra unidade. No setor de adultos, a espera também é longa e irritante. Alguns já  aguardam o atendimento há mais de quatro horas.
Ao contrário do que possa parecer, a cena descrita não é de nenhum posto de saúde ou hospital da rede pública. O drama de pacientes esperando por horas em salas lotadas pelo atendimento médico é, desde alguns anos, tão comuns aos usuários de planos privados de saúde quanto àqueles que só dependem dos serviços do SUS. E o motivo é fácil de perceber: os planos tem mais clientes do que podem atender através da rede credenciada.

Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) apontam que, no Rio Grande do Norte, a adesão subiu 130% entre março de 2004 e março deste ano. Isso representa um acréscimo de 474.030 de pessoas assistidas pelos planos de saúde em dez anos. Em contrapartida, a oferta de serviços não acompanhou a evolução. Não aumentou o numero de hospitais e, em alguns casos, até houve redução nas especialidades médicas credenciadas para o atendimento.
Sem se identificar, na última semana, uma equipe da TRIBUNA DO NORTE visitou três emergências de hospitais particulares de Natal. Dois na zona Sul e um na zona Leste da cidade. Em dois deles, a reportagem constatou que o tempo de espera para receber atendimento é superior a quatro horas. O problema tem maior visibilidade no setor pediátrico, mas os adultos também reclamam da demora.

Frustração e impotência se misturam nas descrições que os pacientes fazem da situação. As reclamações dos usuários começam, invariavelmente, pelo custo atual dos planos de saúde e terminam com o desencanto por terem que esperar por um atendimento pago tanto quanto esperariam – ou até mais – em um hospital ou posto da rede pública de saúde. A diferença entre público e privado, em alguns casos, reside apenas no mínimo de conforto que o segundo proporciona em relação ao primeiro.

Na tarde da última sexta-feira, a psicóloga Gabriela Machado

aguardava atendimento no setor pediátrico de um dos hospitais privados, visitados pela reportagem. Já estava na fila para consultar o filho de nove meses havia duas horas e disse que a demora é uma rotina nos hospitais particulares. “Terça-feira (02/09), estive aqui no hospital com meu filho mais velho... Cheguei às 8h e saí às 17h, aguardando os atendimentos necessários para o diagnóstico de rotavírus. Nós, pais de crianças, já sabemos que é preciso paciência no atendimento pediátrico em qualquer hospital particular de Natal”, declarou.

Filas
Dezenas de prontuários em cima do balcão, crianças com rostos tristes e adultos com expressões de cansaço formavam a cena em outro pronto-atendimento pediátrico visitado. Ao menos 15 crianças aguardavam por atendimento de urgência. “E faltam os pacientes de retorno. Tem mais criança para ser atendida”, avisava a recepcionista. Um pouco mais à frente, no balcão, um quadro fixado na parede avisava: “O atendimento é imediato e incondicional aos pacientes em estado de emergência”.

A dona de casa Ângela da Cruz, 27 anos, segurava o pequeno Arthur, 4 anos, no colo. O filho estava com problemas respiratórios. Não é a primeira vez que ela enfrentava a longa espera. “São mais de quatro horas de espera. É sempre assim. Aqui, demora demais. Mas não tem outra opção. Às vezes penso em levar num posto da rede pública para saber se demora desse jeito”, relatou. No hospital onde Ângela estava, haviam dois médicos pediatras de plantão. “Não posso dizer quanto tempo ainda vai demorar. É muito imprevisível”, explicou a atendente.

“Natal não tem opção de hospital. A gente paga um plano de saúde caro, mas não tem o retorno que merecemos. Nem adianta correr para outro hospital, vai ser igual ou pior. A gente acaba como qualquer usuário do SUS: na fila de espera”, desabafou o auxiliar de escritório Jaime Alencar, 32 anos. Em um outro hospital na zona Sul, onde não há especialidade pediátrica, o cenário era mais calmo, mas a espera, de novo, frustrava os pacientes. Quatro médicos de especialidades distintas estavam à disposição. “Demora demais.  Entendo que o médico precisa consultar o paciente com cuidado e atenção,  mas acho que o hospital deveria dar mais opção. Os planos de saúde também não pagam bem e o hospital não quer ficar no prejuízo”, analisava o estudante Rodrigo Fernandes, 21 anos. Ele esperava pelo atendimento há quase duas horas.
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Fonte: Tribuna do Norte

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