Consultoria do filho de Lula se baseou na Wikipédia, diz PF
O relatório final da Polícia Federal no inquérito da Operação Zelotes
que investigou os negócios de Luis Cláudio Lula da Silva, filho do
ex-presidente Lula, concluiu que ele se baseou em "meras reproduções de
conteúdo disponível" na internet, "em especial no site Wikipédia", para
produzir trabalhos que, segundo ele alegou à PF, justificariam o
recebimento de R$ 2,5 milhões da firma do lobista Mauro Marcondes
Machado.
Ao final dessa parte da investigação, entregue nesta semana ao
Ministério Público Federal, a PF decidiu abrir um inquérito específico
para aprofundar a apuração acerca dos pagamentos à empresa de Luis
Cláudio, a LFT Marketing Esportivo. Além disso, a PF indiciou 19 pessoas, ou seja, apontou indícios suficientes para identificar a autoria de um crime –Luis Cláudio não está nessa leva de indiciados.
O Ministério Público deverá apresentar denúncia sobre a mesma
investigação até a próxima segunda-feira (30), que poderá ou não
concordar com os indiciamentos e a decisão da PF de desmembrar o caso
relativo ao filho de Lula.
Além desse caso, a Zelotes mantém em andamento, ainda sem previsão de denúncia, outros 19 inquéritos
policiais sobre irregularidades no Carf, o conselho vinculado ao
Ministério da Fazenda que julga recursos de multas aplicadas pela
Receita Federal.
Luis Cláudio entrou no radar da Zelotes após a quebra do sigilo bancário
da microempresa do lobista, a Marcondes & Mautoni Empreendimentos e
Diplomacia Corporativa. Os registros mostraram pagamentos
a partir de 2014 no total de R$ 2,5 milhões e na mesma época em que o
lobista recebeu R$ 16 milhões de duas empresas interessadas em
benefícios fiscais do governo federal.
Com autorização da Justiça Federal, no final de outubro a PF fez busca e
apreensão na sede da empresa de Luis Cláudio, em São Paulo.
Chamado pelos investigadores a dar explicações sobre os pagamentos, Luis Cláudio afirmou que o dinheiro se justificaria pela prestação de serviços
na área esportiva, com "foco, em grande parte, relacionado à Copa do
Mundo Fifa 2014 e às Olimpíadas 2016", conforme seus advogados
divulgaram na época. O filho de Lula entregou à PF um material que,
segundo ele, detalhava e confirmava os serviços prestados.
A PF recebeu as explicações com ceticismo. Segundo o relatório final,
"uma primeira e rápida vista dos documentos" já indicou que "pareciam
ser de rasa profundidade e complexidade, em total falta de sintonia com
os milionários valores pagos".
A PF então produziu um relatório de análise específico sobre o material
apresentado, que concluiu ser baseado em conteúdo encontrado na
internet. Para a PF, o trabalho da LFT não tem "qualquer lastro
metodológico científico ou de pesquisa de campo", além de uma qualidade
"extremamente duvidosa". A PF concluiu que não é "minimamente crível"
que Mauro Marcondes tenha contratado Luis Cláudio "ao mero acaso", pois
ele "nunca tinha realizado qualquer trabalho semelhante anteriormente".
O inquérito apontou ainda que "não se sabia o custo da produção do
estudo, tampouco a margem de lucro do trabalho". Os responsáveis pela
contratação "não souberam falar com precisão sequer as datas em que os
contratos foram assinados, o cronograma de pagamentos e as datas de
entrega dos produtos contratados".
OUTRO LADO
Em nota divulgada na quinta-feira (26) a respeito de notícias sobre a
conclusão do inquérito da Operação Zelotes, o advogado de Luis Cláudio
da Silva, Cristiano Zanin Martins, reafirmou que seu cliente "prestou
serviços na área de marketing esportivo para a Marcondes & Mautoni,
através da LFT Marketing Esportivo, e que tais serviços foram
comprovados".
O advogado não foi localizado pela Folha a partir das 21h desta
sexta-feira (27) para comentar a afirmação da PF de que seu cliente
utilizou material da internet, assim como o advogado de Mauro Marcondes.
Na nota, o advogado Martins afirmou que "foram entregues relatórios
sobre cada um dos projetos elaborados, como documentou junto à Polícia
Federal".
"A LFT recebeu pagamentos da Marcondes & Mautoni entre junho de 2014
e março de 2015, à medida que os trabalhos contratados foram
executados. Todos os valores foram declarados à Receita Federal e houve a
emissão de notas fiscais, com os devidos impostos recolhidos. Esta
relação comercial foi a única que a LFT e Luis Cláudio mantiveram com a
Marcondes & Mautoni", afirmou o advogado na nota.
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