Em mais uma fase da Operação Lava Jato, a Polícia Federal cumpre nesta
terça-feira (15) mandados de busca e apreensão na residência oficial do
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e dos ministros Celso
Pansera (Ciência e Tecnologia) e Henrique Eduardo Alves (Turismo), ambos
do PMDB, além de outros políticos, a maioria do mesmo partido.
Um celular de Cunha foi apreendido. Houve buscas na na diretoria-geral
da Câmara, órgão responsável por fechar contratos e ordenar despesas.
Fábio Cleto, aliado de Cunha que ocupava uma das vice-presidências da Caixa Econômica Federal até a semana passada, também foi alvo de busca, em São Paulo. Ele é um dos principais operadores do presidente da Câmara.
A ação da PF ainda atinge o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE), apontado
como interlocutor do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL),
nos desvios da Petrobras, e a sede do PMDB em Alagoas. Embora não seja
alvo direto de um mandado de busca, o presidente do Senado também é
objeto desta operação. Um dos inquéritos investigados nesta fase é o
dele. A operação atinge pessoas com foro privilegiado ou ligadas a eles.
Outros atingidos são o senador e ex-ministro Edison Lobão (PMDB-MA) –que
é investigado no Supremo Tribunal Federal pela Lava Jato–, Nelson
Bornier (PMDB-RJ), prefeito de Nova Iguaçu e aliado de Eduardo Cunha,
Sergio Machado, ex-presidente da Transpetro, e o deputado Alexandre
Santos (PMDB-RJ) –ele foi foi citado nos depoimentos do delator Fernando
Soares por suposta influência em uma das diretorias da Petrobras, de
acordo com reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo".
Santos foi filiado ao PSDB entre 1994 e 2003, mudou para o PP entre 2003
e 2005, e desde então está no PMDB. Baiano disse que foi apresentado
por ele a Cunha em 2009.
A sede da empresa Estre em São Paulo –que tem como sócios o BTG Pactual,
de André Esteves, e o fundador do grupo, Wilson Quintella Filho– também
foi alvo de busca e apreensão na manhã desta terça.
Os agentes da PF estiveram também no escritório mantido pelo deputado
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no Edifício De Paoli, na avenida Nilo Peçanha,
no centro do Rio.
É o mesmo prédio onde fica a filial do Rio da empreiteira UTC.
É o mesmo prédio onde fica a filial do Rio da empreiteira UTC.
PMDB
Com Cunha, ministros e parlamentares na mira, a operação da PF atingiu
em cheio o PMDB. Embora não seja alvo direto de um mandado de busca, o
presidente do Senado também é objeto desta operação. Um dos inquéritos
investigados nesta fase é o dele. A operação atinge pessoas com foro
privilegiado ou ligadas a eles.
Em julho, depois de a Polícia Federal ter realizado ações de busca e apreensão na residência de três senadores investigados na Lava Jato, Cunha fez uma provocação ao dizer que a corporação pode ir à sua casa "a hora que quiser".
Na ocasião, questionado sobre o que pensava da ação da PF e se temia que
sua casa fosse alvo de uma das operações, Cunha respondeu: "Eu não sei o
que eles querem comigo, mas a porta da minha casa está aberta. Vão a
hora que quiser. Eu acordo às 6h. Que não cheguem antes das 6h para não
me acordar".
Um chaveiro foi chamado na residência do deputado, acompanhado pela
servidora que é responsável pela administração da Câmara. O local
permanece isolado por três viaturas da Polícia Federal. Servidores que
trabalham na residência foram impedidos de entrar. Moradores da região
passam no local para fotografar a ação.
Na residência oficial do Senado, não há movimento. O carro do presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB-AL), está no local.
PROTEÇÃO DE PROVAS
Segundo a PF, as buscas ocorrem em endereços funcionais de investigados,
sedes de empresas, escritórios de advocacia e órgãos públicos com o
objetivo de "evitar que provas importantes sejam destruídas pelos
investigados".
Ainda segundo a PF, também foi autorizada apreensão de bens "que possivelmente foram adquiridos pela prática criminosa".
Além de Brasília, mandados de busca e apreensão contra Cunha, que é alvo
em dois inquéritos por suspeita de ligação com o esquema de corrupção
da Petrobras, são cumpridos em todos os endereços dele no Rio de
Janeiro.
Celso Pansera é alvo de busca em Duque de Caxias (RJ), e Henrique Eduardo Alves, no Rio Grande do Norte.
CASAS CERCADAS
A residência de Cunha –ele mora na Península dos Ministros, onde fica a
residência oficial da presidência da Câmara– amanheceu cercada por
diversas viaturas policiais.
O movimento está sendo acompanhado pelo advogado Alexandre de Souza,
filho do ex-procurador-geral da República. A ação foi pedida pela
Procuradoria-Geral da República e teve aval do ministro do Supremo
Tribunal Federal Teori Zavascki.
As casas dos congressistas em Brasília também estão cercadas.
Não há, ao menos por ora, prisões na etapa atual da operação, chamada Catilinárias.
O nome da operação é referência a uma série de discursos proferidos pelo
cônsul romano Cícero por volta de 63 a.C. contra o senador Catilina,
acusado de tentar derrubar a República.
CUNHA
O presidente da Câmara é acusado de ser beneficiado de desvios da
Petrobras. Segundo dois delatores, ele teria recebido US$ 5 milhões em
propina de contratos de navios-sondas e também de um negócio fechado
pela Petrobras na África que teriam abastecido contas no exterior
mantidas pelo peemedebista e familiares na Suíça.
Cunha foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo
Tribunal Federal pelo suposto recebimento de propina ligada a desvios na
Petrobras há cerca de quatro meses, mas o STF ainda não decidiu se acolhe ou não as denúncias.
Sem o acolhimento, Cunha não é réu, somente investigado.
Há algumas explicações para a demora no STF. A primeira e mais
determinante é que no Supremo há uma tradição, prevista no Regimento
Interno do tribunal, de que o ministro relator do inquérito abra prazo
de 15 dias para manifestação do político antes de decidir sobre a
denúncia.
Ao prazo concedido à resposta prévia somam-se iniciativas tomadas pela
defesa do parlamentar no STF. Seus advogados solicitaram, por exemplo,
que o tribunal concedesse um prazo em dobro para a manifestação prévia,
de 15 para 30 dias.
Como Teori recusou a ampliação, teve que submeter o pedido ao plenário
do STF, gerando mais demora. Em setembro, a maioria dos ministros
contrariou o relator e decidiu pelo dobro do prazo.
A terceira explicação para a demora se deve à própria Procuradoria. Mais
de dois meses após a denúncia, o órgão fez um aditamento, dizendo que
Cunha também se beneficiara indevidamente de voos de táxi aéreo como
pagamento de propina. Assim, a defesa conseguiu mais prazo para a defesa
prévia, com prazo novamente dobrado.
A Procuradoria já manifestou preocupação sobre o andamento do inquérito.
A respeito de um pedido da defesa de Cunha para ter acesso à íntegra de
documentos usados como prova, o procurador-geral da República em
exercício, Eugênio Aragão, pediu a Teori que indefira pedidos "de
natureza manifestamente protelatória".
OUTRO LADO
Um dos advogados criminalistas de Eduardo Cunha, Davi Evangelista
Machado, que foi à casa do parlamentar em Brasília nesta terça-feira
(15), disse que só vai se manifestar após a defesa ter pleno
conhecimento dos motivos da ação da PF.
O delegado responsável pela busca e apreensão na casa do deputado
autorizou a entrada no imóvel de apenas um dos advogados de Cunha,
Alexandre Souza.
Já o advogado de Cunha no Conselho de Ética da Câmara, Marcelo Nobre, afirmou que a operação seu cliente só reforça a tese da defesa.
"Isso [a ação da Polícia Federal e do Ministério Público] só reforça a
nossa defesa, só reforça. Porque a defesa tem dito duas questões: que
não tem prova. E o que decorre da busca e apreensão na casa do meu
cliente? A busca de prova. A segunda, a de que o Conselho não tem o
poder investigativo, que é do Supremo Tribunal Federal", afirmou Nobre,
acrescentando: "Não existe absolutamente prova nenhuma, porque a
denúncia não faz prova, as delações não fazem provas."
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Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/12/1719175-policia-federal-cumpre-mandado-de-busca-e-apreensao-na-casa-de-cunha.shtml#_=_
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