Outro dia, acompanhando uma pessoa próxima, visitamos a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte, mais especificamente o gabinete de um certo deputado, cujo nome omitirei para não sofrermos acusação de sermos oposicionistas e por entender, após décadas de estudos sociológicos, que esta é uma conduta comum.
Para desventura nossa e, ainda maior vergonha da pessoa, fina que é, que acompanhávamos naquela ocasião, presenciamos uma cena que guardaremos no velho baú da memória e transmitiremos, para aqueles e aquelas que tiverem ouvidos para ouvir, estas histórias e causos que aqui recontamos na forma de textos.
Pois bem, amiga e amigo leitores, chegamos no gabinete do dito deputado, pela porta da frente, e uma boa quantidade de pessoas do povo tentava, inquietamente, se manter e se espremia no interior da ante-sala do gabinete. Eram rostos de homens e mulheres humildes, eleitores daquele político, que há bem pouco tempo esteve em suas casas a caça de votos.
Como se não bastasse aquela aglomeração, faltavam cadeiras onde se sentar e algumas pessoas, de pé, aguardavam o ar da graça da autoridade. Quatro serviçais do gabinete se revezavam na tarefa incansável de perguntar aqui e ali:
- O que é que o senhor quer? O que é que a senhora quer?
- Aguarde mais um pouquinho!
- O que o senhor quer? O que a senhora quer?
- Aguarde mais um pouquinho!
E nessa verdadeira ladainha já se iam horas de espera. Já passava do meio dia quando uma mocinha, com ar de quem comeu e não gostou, temerosa, foi se chegando uma a uma daquelas figuras, já tão castigadas pelo abandono de uma vida inteira e do descaso dos deletérios que lhes sugam a dignidade, e lhes dizendo em tom lúgubre:
- O deputado teve que sair, o senhor volta depois!
- O deputado teve que sair, a senhora volta depois!
E os olhos daqueles tantos e tantas cidadãos de bem, seus semblantes pareciam haver sido tocados por uma profunda decepção e tristeza. Creio que mais pelo sentimento de traição e da certeza de haver sido enganado mais uma vez, do que por qualquer outra coisa.
Repetia-se ali o que eles sempre souberam e que um senhor idoso, antes de sair, conseguiu sabiamente verbalizar:
- Nós só temos valor até o dia da eleição!
O deputado, sorrateiramente, saíra pela porta dos fundos de seu gabinete para não falar com aquela, que ele agora denomina, gente pobre e chata.
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