A tragédia ocorrida na cidade de Santa Maria, RS, na noite do último sábado e que ceifou 231 vidas e deixou centenas de feridos é apenas uma vírgula na história da sociedade brasileira.
As cenas dantescas chacoalham o berço esplêndido e acordam, aos sopapos, o Brasil que insiste em dormir a beira do abismo. Os perigos que ninguém via, de repente se agigantam e transformam empresários "bonzinhos" em demônios, bodes expiatórios de uma sociedade eivada de malandros e vícios.
Quem não já ouviu a bocas miúdas, alhures, alguém afirmar "Molha a mão de fulaninho que dá tudo certo!"? Quantas vezes você mesmo(a) não fez isso? Pois bem, esse dito "jeitinho brasileiro", está mostrando apenas mais um de seus resultados. Lamentavelmente uma tragédia para tantas famílias e a desgraça para outras.
Todavia, é preciso se levar luzes sobre outros fatos que não estão sendo tocados pela grande mídia marron. Está sendo divulgada insistentemente a prisão dos donos da boate Kiss, onde ocorrera o episódio. Porém, não se escuta falar da prisão das autoridades que fecharam os olhos, se omitiram e deixaram que tudo acontecesse. Pelo menos, até o momento em que escrevemos este texto.
Na verdade, estamos diante de uma velha e conhecida prática: a omissão oficial daqueles que deviam proteger a população. Parece que estamos escutando: Alguém tem que ser exposto como bode expiatório para acalmar o clamor popular! O estado falhou no seu papel de fiscalizador e licenciador. Foi, no nosso entendimento, o maior responsável pela tragédia da boate Kiss.
E na nossa realidade, nas nossas casas de festas, há fiscalização e controle para evitar tragédias como a de Santa Maria? Quem fiscaliza e quem licencia esses ambientes? Os nossos bares, clubes, lugares de grande aglomeração de pessoal estão em condições adequadas para funcionar?
Procure os extintores de incêndio, portas de emergência e outros equipamentos obrigatórios na boate, no clube no bar próximo de você e pergunte com qual frequência recebem a fiscalização. Será o bastante para tirar suas conclusões.
São responsáveis os donos das boates, mas também o são todos e todas aqueles e aquelas que tem o dever e a obrigação de fiscalizar, licenciar e controlar tais atividades e impedir que desastres como este e outros aconteçam. As prisões deveriam começar pelos que ganham para evitar tais sinistros.
Como sempre, no país do carnaval, medidas serão tomadas após este terrível incidente, no sentido de evitar a repetição do caos. Mas, o que, de fato, precisamos está bem longe de ser alcançado. É preciso mudar a mentalidade de nosso povo e obrigar o estado a cumprir o seu papel. Deixarmos de lado os "jeitinhos" e exigirmos o rigor da lei. Levar não apenas os bodes expiatórios, mas tantos quantos, de verdade, tiverem responsabilidade sobre cada uma das vidas que nos são tiradas nas boates Kiss nossas de todos os dias.
Aos familiares das vítimas a nossa solidariedade. Às autoridades o nosso repúdio pela vergonhosa omissão.
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