quarta-feira, 5 de junho de 2013

Ministério da Saúde perde um excelente profissional

Demitido após campanha para prostitutas aponta "situação conservadora"

Exonerado do Ministério da Saúde dias após lançar, nas rede sociais, uma ação voltada para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis entre prostitutas, Dirceu Greco aponta para o que vê como uma "situação nacional e internacional conservadora".

Na terça-feira (4), o ministro Alexandre Padilha (Saúde) mandou suspender para reavaliação a ação, composta por imagens de mulheres com frases de impacto e um vídeo. E decidiu exonerar Grego do cargo de diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do ministério.

Não é a primeira vez que campanhas lançadas por Greco foram retiradas de circulação. No início de 2012, Padilha determinou a troca de uma peça que focava na prevenção entre jovens gays.

"Minha opinião é que perderam a chance de transformar um limão numa limonada: 'Olha o que o Ministério da Saúde está fazendo: discutindo direitos humanos num país laico'", disse Greco, que deve reassumir seu cargo de professor na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

Veja trechos da entrevista.

Folha - O Sr. foi exonerado...

Dirceu Greco - Fiquei triste, mas que bom que vamos continuar falando que as prostitutas são felizes.


O que aconteceu?

Estou exonerado do papel de diretor do departamento, que é parte da Secretaria de Vigilância em Saúde, que é vanguardista principalmente na defesa dos direitos humanos, sem discriminação de gênero ou orientação sexual. Aquela não era uma campanha, foi uma homenagem, que fazemos todo ano para a visibilidade das prostitutas, e foi desenvolvida junto com elas.


Me conte sobre essa ação.

Aquele cartaz --"Eu sou feliz sendo prostituta"-- tem relação com a saúde, sim, faz parte da saúde mental a valorização [da mulher]. 'Sou [prostituta], tenho meu direito à felicidade e meu direito a ter direitos'. E não era uma peça sozinha, era junto de algo maior, que tratava do uso do preservativo.


O Sr. disse que o departamento tinha essa característica vanguardista, o Sr. vê na reação um conservadorismo? Por que outras campanhas também foram vetadas?

É difícil colocar, eu estou saindo do ministério. Estamos vivendo uma situação nacional e internacional conservadora. Nem é religiosa, é briga de poder. Fico preocupado com uma eventual situação de conservadorismo total. Sempre fico com medo de lançarem um plebiscito pela pena de morte. Sabe-se lá o que está na cabeça das pessoas.

Minha opinião é que eles perderam a chance de transformar um limão numa limonada: 'Olha o que o Ministério da Saúde está fazendo: discutindo direitos humanos num país laico, valorizando que cada um pode ser o que quiser'. Perderam a chance e usaram a tecnicalidade, dizendo que as peças não passaram pela tramitação [pela assessoria do ministro]. Espero que [a ação] volte [para as redes sociais], já que eles tiraram para avaliar.

__________________________________________
Fonte: Folha de São Paulo

Cartaz divulgado nas redes sociais pelo Ministério da Saúde

Nenhum comentário:

Blog desenvolvido por Haendel Dantas | Blog O Mipibuense 2009