Segundo o dicionário Aurélio Buarque de Holanda, emancipar-se significa libertar-se, adquirir a capacidade de gerir seu próprio destino, alforriar-se.
É bem verdade que o termo, na conjuntura atual, bem se aplica a situação de São José de Mipibu. Se não, vejamos.
Há bem pouco tempo a cidade e o seu povo vivia em situação de penúria e sofrimento próprios dos navios negreiros de outrora. Quem é vivo testemunhou uma médica, se é que tal pessoa deve assim ser chamada, humilhar uma mãe mipibuense que clamava na fila do hospital por atendimento para sua filha. Idosos quase morriam esperando uma cirurgia, somente conseguida através de ação judicial, após grande clamor popular. Uma mãe quase tem seu filho em praça pública, porque o médico da chorosa e falida APAMI de São José de Mipibu se negava a fazer o seu parto.
No âmbito da gestão, tivemos o maior escândalo de desvio de dinheiro público que o povo mipibuense já teve conhecimento, o famoso MENSALINHO. Fato que hoje é investigado pela justiça estadual.
Para além das dores da nossa gente, o nosso povo, haviam beldades que usufruíam do bom e do melhor, aviltando os direitos de toda uma população. Haviam os que brincavam de construção e era tanto cimento que, como bem dizia o saudoso Geraldo Papudo, "A poeira chega subia!". Haviam os que viajavam para o Canadá e de lá mandavam as contas para o contribuinte mipibuense. Haviam coronéis do apartheid cultural, que proibiam que blocos de carnaval de pessoas humildes chegassem próximo do palanque da rainha do nepotismo. Havia até mesmo o bejú de farinha, quem tratava seu cavalo com soro fisiológico do hospital, adquirido com dinheiro público. E para que a coisa parecesse normal, haviam, o homem que copiava, um que lia o discurso copiado do cabeção boneco de Olinda, uns que maquiavam, uns que, diga-se de passagem muito mal, escreviam o que não viam, mas escreviam e outros que só engordavam, em todos os sentidos. E, por último, haviam os que abençoavam todas essas vergonhas e descalabros contra o povo em nome não se $abe de quem.
É bem verdade que urgia a emancipação da cidade. Também é verdade que a emancipação não deve ser concebida como um gesto, uma simples e única atitude, mas um processo contínuo e amplo. Um processo através do qual o maior beneficiário seja a grande maioria da população. Aqueles e aquelas que, na cidade, vivem a cidadania ou a sua falta.
De certo, temos que um novo governo tomou posse através do desejo da grande maioria do eleitorado e tem a obrigação de mudar esta realidade. De impedir que o soro fisiológico das unidades de saúde sejam desviados para tratar cavalos, que nossas mães sejam agredidas nas filas de atendimento, que nenhum idoso sofra com falta de assistência em saúde, que não seja permissivo com ladrões do dinheiro público e que, no exercício da arte da política, saiba respeitar o cidadão e cidadã mipibuense nos seus direitos.
Claricce Lispector nos deixou uma grande lição ao afirmar que "Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome."
A emancipação é um sonho que uma cidade sonha junto com seu povo.
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