No Brasil, estamos acostumados com a expressão “político corrupto”. A bem da verdade, as palavras “político” e “corrupto” há muito não se divorciam em uma frase. Estão sempre coladinhas. Uma perto da outra. Aonde uma vai, a outra vai atrás. Onde uma está lá está à outra também. No cenário político brasileiro elas formaram um par romântico, tal qual Romeu e Julieta.
Mas não é sobre políticos corruptos que pretendo falar. Sobre esse assunto vários jornais, revistas, noticiários, tablóides, sites, blogs, rodas de bares e mercearias têm se empenhado. Analistas políticos, filósofos, sociólogos, jornalistas, quitandeiros e engraxates têm dado seus pareceres sobre o tema.
Falemos, então, sobre a outra face do processo eleitoral. O outro vértice do assunto. O outro lado da moeda: o eleitor. Aquele que em tempos de eleição é a última bolacha do pacote. A luz no final do túnel. O prêmio de todo candidato. Mas não é sobre qualquer eleitor; é sobre o eleitor corrupto. Isso mesmo, apesar da palavra “corrupto” viver na “cola” do político, ela não é afeta somente a esta classe.
Fato é que nos acostumamos a analisar basicamente os erros de quem está no poder. As maracutáias do Planalto, as sanguessugas do Congresso ou o paraíso fiscal dos poderosos. Mas vem cá! E sobre os eleitores corruptos, ninguém nada fala? Aquele quem em tempos de eleição bate à porta dos políticos para pedir gasolina, novilha para o casamento, remédio para a sogra, cestas básicas, passagens, leitoa, emprego etc.. Sobre isso ninguém comenta nada?
Não nos enganemos. Tanto o deputado que surrupia dinheiro público, quanto o eleitor que pede/aceita uma pequena ajuda são farinhas do mesmo saco. Tanto o prefeito que desvia verbas quanto o eleitor que recebe R$ 50,00 (cinqüenta real (errado, assim mesmo) em troca do seu voto estão incursos no mesmo erro: a corrupção.
Vejamos. Pegue seu dicionário. Folhei-o até a letra “C”. Especificamente na palavra corrupto. Lá estará escrito: Corrupto – aquele que se corrompe; corrompido; depravado; devasso. Para ter uma visão mais completa, volte um pouco mais até a palavra corromper; e lá estará escrito: Corromper – Apodrecer; estragar; perverter; viciar; subornar.
Portanto, quando um eleitor aceita o suborno de um determinado candidato, independente do valor, seja de alguns centavos, até altas cifras (pois o que importa não são o valor mais a atitude nefasta da pessoa), ele faz às vezes do corrupto passivo, aquele que recebe vantagem de outrem. E como diz o dicionário, tal pessoa está apodrecida, estragada.
Após a aprovação da mini-reforma eleitoral (Lei 11.300/06), na qual os partidos e candidatos ficaram proibidos de distribuir brindes – como camisetas, chaveiros, bonés, canetas -, cestas básicas, ou “quaisquer outros bens ou materiais que possam proporcionar vantagem ao eleitor”, bem como proibidos de realizar os showmícios, com a participação de artistas, passei a ouvir uma quantidade enorme de reclamações. Dos políticos? Não! Não! Dos eleitores corruptos. Segundo eles “tal lei tirou a alegria das campanhas políticas”. Ou como disse determinado eleitor: “Ah, agora é que eu não voto mesmo, não vou ganhar nada em troca”.
Eis aí, portanto, nossos gloriosos eleitores corruptos. Aqueles que pleiteiam, pedem e requerem algo em troca do seu valioso voto. E o interessante é que fazem isso com a maior naturalidade do mundo, com a maior cara de pau, pensam que não estão fazendo nada de errado. Depois, no momento em que surgem escândalos entre os políticos, eles mesmos dizem: “Esse Brasil tá uma vergonha!”.
Obs: quando forem votar este ano, pensem nisso!