No país que está entre os melhores em rankings de educação, docentes dão aula em só uma escola e têm liberdade de avaliar
Na análise de quaisquer que sejam os rankings de educação, é praticamente certo que a Finlândia - país nórdico de cerca de 5 milhões de habitantes (mesma quantidade de alunos da rede estadual de São Paulo) - esteja presente nas primeiras posições. Por ter um dos melhores sistemas de ensino do mundo, representantes do Ministério da Educação do país foram convidados a vir a São Paulo para detalhar o modelo que pode servir de inspiração ao Brasil. O evento foi promovido pelo Colégio Rio Branco e pela Embaixada da Finlândia.
Em entrevista ao Estado, Jaana Palojärvi, diretora do Ministério da Educação e Cultura da Finlândia, disse que a principal "receita do sucesso" tem a ver com o trabalho do professor, cuja profissão é valorizada e muitos jovens querem segui-la.
A valorização da carreira dentro da própria sociedade foi observado pela educadora Esther Carvalho, diretora-geral do Colégio Rio Branco, que visitou o país em duas ocasiões. "Mesmo não sendo um dos mais altos salários pagos em comparação com outros países europeus, lá o professor tem um prestígio social. Isso é evidente", fala Esther.
Ao observar o ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2009 - realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) -, o país ficou na 3ª melhor posição, entre mais de 65 países. O Brasil acumulou a 53º posição.
O que mais chama atenção no seu modelo educacional, é a descentralização administrativa das escolas - professor tem poder para remodelar o currículo de seu grupo de alunos -, há pouco dever de casa e as crianças não são expostas a quantidades excessivas de conteúdo. Uma realidade bastante distinta de países asiáticos como Coreia, líder do Pisa. O sistema coreano é reconhecido por exigir bastante dos alunos na escola e fora dela.
Na Finlândia, manter um ambiente propício à aprendizagem, tendo o professor como figura central desse processo é o principal foco do Estado, que financia completamente o ensino básico.
O Estado de S. Paulo - É fácil ser professor na Finlândia?
Jaana Palojärvi - É das profissões mais populares no país. Por isso, nos preocupamos em selecionar bem os profissionais. Apenas 10% dos candidatos que pretendem entrar na universidade para serem professores conseguem fazer o curso. E não se pode ser professor na Finlândia sem ter mestrado.
No Brasil há déficit de professores de Química, Física e Matemática. Faltam esses profissionais na Finlândia?
Nossa situação é diferente. É fácil para nós termos professores, pela grande procura. Só em Matemática é um pouco mais difícil.
Professor em seu país dá aula em mais de uma escola?
Sabemos que os professores brasileiros fazem isso, mas não na Finlândia. Lá, o docente dá aula em apenas uma escola. Geralmente fica com o mesmo grupo de alunos, acompanhando-os por cerca de 6 anos.
Qual o salário médio dos docentes?
Eles não são nem mal pagos nem tão bem pagos. O salarial inicial de professor de ensino fundamental é de cerca de € 3.000 (R$ 7.860) por mês.
Qual é o tamanho da carga horária nas escolas finlandesas?
Temos uma das cargas horárias mais curtas do mundo. Nos anos iniciais do ensino fundamental, por exemplo, os estudantes ficam entre 3 e 4 horas na escola apenas.
Então, eles levam muito dever escolar para casa?
Nós não somos muito defensores da tarefa de casa. A quantidade que passamos para os nossos alunos é baixa. É um sistema diferente de países asiáticos, que passam muita tarefa.
Como são feitas as avaliações?
Na educação básica não temos uma avaliação nacional. Em cada sala, o professor é quem decide como avaliar seus alunos. Não acreditamos muito em testes e controle, focamos mais no aprendizado. Temos um sistema bem descentralizado.
No Brasil, o currículo do ensino médio está sendo repensado. A ideia é enxugar a quantidade de disciplinas que podem chegar a 13. Como é o currículo na Finlândia?
Atualmente estamos reformulando o nosso currículo para distribuir melhor os horários de aulas na educação básica. Estamos colocando especial atenção à disciplina de Artes. Queremos impulsionar cada vez mais a criatividade das nossas crianças.
Quem define o currículo?
À nível nacional, desenhamos apenas o esqueleto. É no nível da escola que são definidos as especificidades. Algumas escolas por exemplo, tem um perfi que dá mais destaque a aulas de música, por exemplo. As escolas podem incluir cursos extras à seu critério.
E como a tecnologia é utilizada no aprendizado?
Existem escolas que trabalham bastante com a tecnologia aplicada à educação e outras que nem tanto. Mas no geral, as escolas finlandensas estão mais interessadas no processo não no meio. Não importa se os professores utilizam papel ou aparelhos tecnológicos. O mais importante é a qualidade do aprendizado.
Com que idade os alunos finlandeses aprendem a ler?
Nós não esperamos que aprendam a ler antes dos 7 ou 8 anos. As crianças precisam ser crianças.
No Brasil, há críticas quanto a descontinuidade de políticas públicas. Esse problema é enfrentado pela Finlândia?
No início da década de 70 conluimos um intenso debate sobre mudanças no nosso sistema educacional. FOi uma revolução. Mas depois disso, não importa se o governo é de direita ou de esquerda, não foram modificadas até hoje as bases dessa mudança.
No País, existem professores queixam de excesso de alunos por sala. Algumas turmas chegam a ter mais de 40 alunos. Qual é a situação da Finlândia?
Temos menos de 20 estudantes por sala nos anos iniciais do ensino fundamental. Nos outros níveis da educação básica o número não ultrapassa 25 estudante. Nós nos preocupamos bastante com classes com muitos alunos. Sempre incentivamos escolas localizadas em grandes cidades com grande quantidade de alunos a reduzirem o número de estudantes por sala.
Qual a grande mensagem que a Finlândia pode oferecer ao Brasil?
A qualidade e a equidade são os pontos mais importantes. Independentemente da cidade e do bairro em que estejam localizadas as escolas, elas devem oferecer uma boa educação para todos os alunos. Isso é fundamental.
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Fonte: Estadão on line
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