sexta-feira, 19 de julho de 2013

A sombra da nossa santa ignorância

Admira-nos a todos e todas a capacidade que temos de reverenciar os nossos algozes, muitas vezes, de forma inconsciente.

É bem verdade que as coisas não estão muito bem encaminhadas pela província e que a capa preta de, como ouvíamos falar na São José de Mipibu na época da política do ping-pong, "papa-figos" ainda se espraia sobre algumas mentes dominando-as e ingerindo seus destinos.

Também é verdade que os fantasmas do ferreirismo espreitam as portas da província ávidos de poder e, conforme me dizia o saudoso Sargento Perceval, "com as palmas das mãos coçando, coçando". E o mipibuense genuíno nem necessitará de mais detalhes para o perfeito entendimento do que aqui se afirma.

Há muito a maior parte da população mipibuense sofre com as péssimas condições dos transportes coletivos de passageiros que circulam em São José de Mipibu e os altos preços cobrados pelas passagens. Quem precisa estudar ou trabalhar em Natal sabe muito bem do que falamos. Viajar todos os dias, ida e volta, na frota operada no município é um calvário contemporâneo. Não bastasse as condições dos transportes, o tratamento dado aos passageiros violam literalmente os direitos de nossa gente. Idosos são agredidos diariamente, seja em nível de relacionamento interpessoal, seja no descumprimento da lei que obriga a gratuidade ou a meia passagem para este seguimento populacional. São comuns as reclamações de idosos e idosas sobre este assunto.

Por outro lado, a nossa classe política queda silente no conforto de seus mandatos e sem querer estremecer as relações com os verdadeiros algozes de nosso povo. Alianças as mais esdrúxulas são costuradas para garantia da "paz municipal" e do silenciamento das massas, os "corpos dóceis" muito bem tratados na obra foucaltiana.

É o exercício do poder pelo poder. É a eterna sobreposição de uma minoria sobre a grande maioria das massas nem tanto silenciosas dos últimos tempos.

Todavia, o que nos estranha é o discurso equivocado e até, quiçá, desequilibrado daqueles e daquelas que, motivados por uma trauma qualquer, passam a negar suas natureza e condição e apoiar os próprios carrascos. Begerot trataria esse fenômeno patológico, se é que pode ser assim caracterizado, como "Síndrome de Estolcomo".

O atual estado de coisas está insuportável e as autoridades não apontam soluções capazes de conter, por um lado, os desígnios de um grupo de empresários inescrupulosos e, do outro, a insatisfação generalizada estampada no semblante de cada um de nós. É preciso conter a exploração do povo e garantir-lhe qualidade de vida. É preciso mudar esta realidade e fazer valer os nossos direitos.

É impossível se viver a sombra de nossa santa ignorância.
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