quinta-feira, 9 de maio de 2013

Charles Taylor em Natal

por Alyson Freire

Amanhã, dia 10, às 19h, no auditório da Biblioteca Central, a UFRN receberá um dos grandes nomes da filosofia contemporânea, Charles Taylor. Não se trata de um mero especialista neste ou naquele pensador, muito embora o filósofo canadense seja um profundo conhecedor de Hegel, tendo escrito obras influentes e inovadoras sobre o filósofo de Jena.

Taylor é um pensador autoral, criativo e que, por isso, desde início de sua carreira se propôs a elaborar interpretações originais sobre antigos e novos problemas fundamentais do pensamento social e filosófico, tais como: a natureza da linguagem e da ação humana, as bases de uma antropologia filosófica, os significados dos sentimentos morais, os sentidos de uma vida plena, os dilemas do multiculturalismo, a secularização, entre outros.

Tal não significa que Taylor seja um “cavaleiro solitário”. Pelo contrário, sua obra e filosofia estão enraizadas numa tradição de pensamento que atravessa o liberalismo comunitarista e o pragmatismo norte-americano ampliando-os em direção de referências européias como Herder, o jovem Hegel, a hermenêutica, Heidegger e Wittgenstein.

Charles Taylor não somente foi um contemporâneo de gigantes do pensamento do século XX como Michel Foucault, John Rawls e Jurgen Habermas mas um interlocutor privilegiado e crítico em relação a esses autores.

Sua reflexão assume a defesa radical da ideia do agir e pensar humano enquanto necessariamente situados numa forma de vida e motivados moralmente. Quer dizer, a realização das ações, em última instância, não se define nem se orienta pela racionalidade autofundante do sujeito ou pelo utilitarismo da autoconservação, mas, antes e fundamentalmente, por sentimentos morais significativos – a honra, a autonomia, a dignidade, a autenticidade – que os indivíduos, situados histórica e culturalmente, buscam realizar de acordo com o horizonte de bens morais que formam o sentido de vida plena numa época.

Taylor é o topógrafo hermenêutico das configurações morais modernas. Em seu empreendimento arqueológico lança mão de uma erudição filosófica e estética extraordinária, escavando o campo das idéias e das mentalidades em busca de articulações mais compreensivas sobre os sentidos opacos, os critérios, as valorações de comportamento e de objetos e os pressupostos normativos que constituem os nossos juízos e aspirações morais. Elabora, portanto, uma cartografia dos bens e sentidos últimos que movem os corações e mentes dos homens modernos; refaz sua história e investiga suas conseqüências até produzir um diagnóstico de época, uma generalização teórica que é um verdadeiro retrato moral sobre o que somos e aspiramos existencialmente.

Engana-se quem julga estar diante de um filósofo cujo trabalho se concentraria unicamente neste campo especializado da reflexão filosófica que seria o da filosofia moral. Não. Taylor leva suas análises e conceitos até o campo da política quando, e nesse sentido torna-se particularmente importante para a sociologia, a antropologia e o direito, refletindo sobre as convivências – e seus dilemas – entre os diversos grupos culturais e sociais, examina a relevância e atualidade das lutas e reivindicações desses grupos em torno do reconhecimento de suas identidades e formas de viver. O que está em jogo nesse mundo plural e conflituoso, afirma Taylor, não é a tolerância ou a formação de um consenso racional e equilibrado entre as diferenças e os valores, mas sim o reconhecimento real e imprescindível às diversas possibilidades de ser no mundo. Para o filósofo canadense, o reconhecimento não é uma cortesia, uma concessão permitida e sancionada, senão uma necessidade vital, emocional, moral, constitutiva dos agentes e do valor de sua própria autoimagem.

Cabe mencionar aqui também a importância da iniciativa do Núcleo de Estudos Críticos em Subjetividades Contemporâneas – NUECS (UFRN) –, a qual, vale ressaltar, é inestimável e merecedora de aplausos e todo tipo de congratulações. Ela é, ao mesmo tempo, um contundente indicativo acerca da ambição e da força pretendidas por esse tão recente grupo de pesquisadores, professores e estudantes. Novas grandes surpresas virão, inclusive da própria lavra do NUECS.

Assim como antes, quando grandes pensadores ainda não tão conhecidos pelo campo intelectual nacional de então fizeram frutificar por aqui novas pesquisas e trabalhos inspirados, a vinda de Charles Taylor ao Brasil, e em particular a Natal, pode resultar no mesmo efeito, haja vista o vigor, a sofisticação e originalidade de suas ideias. Porém, isso quer dizer algo bem mais relevante do que a proveitosa disseminação do seu pensamento e obra entre nós; significa, com efeito, a ocasião para uma apropriação expressiva e criativa do seu pensamento e conceitos para pensar e abordar os temas e as questões que afligem nossa realidade. Portanto, aproveitemos a oportunidade.

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